Em 20 de agosto de 1950, há exatos 75 anos, o pioneiro Vitório De Toni chegou à localidade de Gaúcha — atual São Miguel do Iguaçu — trazendo consigo a esperança de dias melhores para a família.
Natural de Pinto Bandeira, município de Bento Gonçalves (RS), onde nasceu em 09 de julho de 1925, Vitório era filho de João De Toni e Maria Gregio De Toni. Casado com Maria Poloni, de origem italiana, nascida em 13 de fevereiro de 1929, filha de Vergínio Poloni e Rosa Rubo Poloni, construiu sua trajetória marcada pelo esforço e coragem típicos dos primeiros colonizadores.
Na época, Vitório e Maria já eram pais de três filhos — Marlene Maria, Zeferino e Geraldo — e enfrentavam grandes dificuldades no Rio Grande do Sul para adquirir terras e sobreviver da agricultura.
A mudança para o Oeste do Paraná trouxe o desafio de derrubar a mata ciliar e iniciar o cultivo de milho, feijão, arroz e trigo. Nas novas terras, a família cresceu: nasceram mais quatro filhos — Cláudio Miguel, Justino João, Olir Luiz e Rose Inês. O casal ainda viu a família se multiplicar em 28 netos e seis bisnetos.
Cláudio Miguel, um dos filhos, entrou para a história local como a primeira criança batizada em Gaúcha, em 28 de março de 1952.
Em relatos emocionantes feitos por Maria antes de seu falecimento em 17 de maio de 1997, ela descreveu as dificuldades da época:
“Quando viemos aqui só existiam duas casinhas de madeira da empresa colonizadora e alguns ranchinhos de capim ocupados por paraguaios. O clima era muito quente e abafado. Faltava comida, porque não existiam lojas. Nada”.
Além da escassez de alimentos, as doenças eram constantes. Sem médicos, o atendimento era feito por Pedro Sebastiani, que atuava como uma espécie de curandeiro: fazia consultas, partos, receitava remédios e até extraía dentes. As estradas eram apenas “picadas”, usadas pelos caminhões que levavam madeira para a Argentina, mas em dias de chuva, ninguém passava.
A educação também era precária. As crianças estudavam em uma sala improvisada na igrejinha, que servia ainda como espaço de oração do terço aos domingos. Uma vez por mês, um padre vindo de Foz do Iguaçu realizava missas, batizados e casamentos.
Mesmo diante de tantas dificuldades, Maria sempre ressaltou a solidariedade da comunidade pioneira: “Quem podia ajudava. Quem tinha, repartia. Não existia violência nem roubos”.
Vitório, além da agricultura, dedicava-se à caça, atividade comum na época, quando era frequente encontrar onças, antas, pacas e diversas aves.
O pioneiro faleceu em 24 de maio de 1969, mas deixou como herança a coragem de quem acreditou em um futuro melhor. Maria, em sua avaliação da mudança para Gaúcha, afirmou que a decisão foi positiva, pois permitiu prosperidade e dignidade para criar os filhos.
Hoje, passados 75 anos, a trajetória de Vitório De Toni e sua família é lembrada como parte da história da formação de São Miguel do Iguaçu, um testemunho de fé, trabalho e esperança.