A humanidade chegou a um ponto decisivo. De um lado, as ferramentas científicas e tecnológicas prometem ampliar horizontes antes inimagináveis; de outro, as estruturas de poder e controle se mostram cada vez mais sofisticadas na arte de restringir a liberdade. O dilema não é simples: estamos caminhando rumo a um salto evolutivo ou acelerando na direção de um colapso autoritário?
A narrativa otimista sustenta que vivemos uma era de grandes possibilidades. Inteligência artificial, biotecnologia, energias limpas, medicina de precisão — tudo isso parece anunciar um futuro em que doenças podem ser controladas, a comunicação é instantânea e a escassez pode ser mitigada. Mas o entusiasmo não deve nos cegar. Quem controla essas ferramentas? Quem decide como elas serão aplicadas?
A concentração de poder em governos e corporações já revela o lado sombrio da equação. Plataformas digitais, antes vendidas como espaço de liberdade, se tornaram arenas de manipulação, vigilância e censura.
A tecnologia, em vez de emancipar, corre o risco de se tornar instrumento de aprisionamento. E quando a promessa de segurança é usada para justificar o controle absoluto, o terreno fértil para regimes autoritários se amplia.
Não é a primeira vez que a humanidade enfrenta uma encruzilhada. No século XX, vimos como avanços científicos — da energia nuclear às telecomunicações — foram apropriados tanto para o bem quanto para a destruição. Hoje, a diferença está na velocidade: nunca estivemos tão próximos de transformar o planeta em um espaço de cooperação global ou em um imenso campo de vigilância.
O que definirá o futuro não é apenas a tecnologia em si, mas a ética e a coragem política com que a sociedade escolherá usá-la. Se prevalecer a lógica da concentração de poder, o salto evolutivo será apenas uma miragem, e o colapso autoritário se tornará realidade. Mas se houver espaço para participação cidadã, transparência e justiça social, poderemos, enfim, dar um passo genuíno rumo a uma civilização mais humana.
A pergunta, portanto, permanece em aberto: a civilização caminha para frente ou para trás? A resposta depende menos do futuro e mais das escolhas que estamos fazendo agora, em cada decisão política, tecnológica e social.
Cláudio Albano/Guia São Miguel